terça-feira, 25 de setembro de 2012

"Inês é Morta"

Existe um expressão - "Inês é Morta" - que é muito usada pelo meu Diretor quando tentamos dar uma solução para um assunto ou tentamos discuti-lo quando já não há mais tempo. E quando ele a utiliza me dá um cento desconforto, pois Inês é o nome da minha mãe. E agora, como o Diretor usa muito tal expressão, um tanto de gente acha bonito também usá-la. E lá continuo eu, incomodada. Nada contra quem usa, o desconforto é meu mesmo. Mas o incômodo me trouxe a curiosidade de entender de onde veio essa expressão. Fiz algumas consultas na internet e achei o texto a seguir o mais plausível, pois as versões variam bastante quanto à dose de exagero do drama relacionado. Segue para quem tiver também a curiosidade:


          Inês de Castro (1320-1355), prima do Infante D. Pedro (1320-1367), depois Pedro I, rei de Portugal, era dama de companhia de Constança, esposa do príncipe. Um dia, quando este a viu, ficou tão atraído por sua beleza que acabou se amasiando com ela, mas o rei Afonso IV, pai de Pedro, insatisfeito com aquela situação, mandou que a recolhessem a um castelo na fronteira com a Espanha, onde a dama continuou a receber notícias do amante. Em 1345 Constança morreu, e então o príncipe, contra as ordens do pai, chamou Inês de volta e a instalou em sua casa, onde viveram maritalmente e tiveram quatro filhos. 
          Mas o rei Afonso conhecia a ambição dos parentes de Inês, e por isso começou a alarmar-se com o crescente poderio da família Castro. Esse fato, mais as intrigas que fervilhavam em todo o reino, fizeram o rei decidir matar Inês e seus filhos, entregando a Álvaro Gonçalves, Pêro Coelho e Diogo Lopes Pacheco, seus conselheiros, a responsabilidade pela execução. Ao tomar conhecimento do crime o príncipe reuniu seus homens e foi atrás dos assassinos, mas sua mãe o fez assinar com o pai um tratado de aliança que impediu momentaneamente a execução da vingança desejada. 
          Com a morte de Afonso IV a ferida foi reaberta, e Pedro, coroado rei em 1357, finalmente prendeu dois dos criminosos (pois Diogo, o terceiro, fora avisado a tempo e conseguira fugir), submetendo-os a suplícios de extrema crueldade. Por outro lado, a reabilitação de Inês de Castro revestiu-se de uma imponência nunca vista, já que seus restos mortais foram levados para o mosteiro de Alcobaça entre alas de servos empunhando grandes velas acesas, para ocupar um dos túmulo que, com o de Pedro I, constituem duas obras primas da escultura sepulcral portuguesa da Idade Média. 
          Mas as lendas sobre a morte e coroação post-mortem de Inês de Castro são de origem literária, como acontece em "Os Lusíadas", de Camões, e na tragédia "Castro", de Antonio Ferreira, uma vez que sua história serviu de tema para tragédias, poesias, romances e estudos escritos em português, espanhol, francês, inglês, italiano e holadês. A expressão “agora é tarde, Inês é morta”, hoje em aplicada nos casos em que a solução do problema só aparece quando o desenlace já aconteceu, tem muito a ver com a frase célebre de Camões ao se referir a Inês de Castro: “a que depois de morta foi rainha”. 

Texto de FERNANDO KITZINGER DANNEMANN